A honestidade e o Evangelho no dia-a-dia
- Letra Espírita
- 20 de mar.
- 6 min de leitura

Por: Luciane Soek
Na visão espírita, a honestidade é um dos pilares do comportamento moral, sendo essencial para o progresso espiritual. Está intimamente ligada aos ensinamentos do Evangelho no dia a dia, pois reflete o compromisso com a verdade, a justiça e o amor ao próximo.
A honestidade também é essencial para a construção de uma sociedade mais justa e fraterna. É um mandamento que o Mestre Jesus deixou para que possamos cumprir e evoluir.
O que é ser honesto? É viver de forma íntegra, agir com a verdade e a justiça em todas as circunstâncias. Não somente evitar mentiras e furtos, mas também de ser fiel aos próprios valores, cumprindo compromissos e respeitando os direitos dos outros.
Na Escritura Sagrada, salmo 15, Deus nos diz: Quem, Senhor, habitará no teu tabernáculo? Quem há de morar no teu santo monte? O que vive com integridade, e pratica a justiça, e de coração, fala a verdade; o que não difama com a sua língua, não faz mal ao próximo, nem lança injúria contra o seu vizinho (Salmos 15:01-03).
Jesus nos ensina a viver com honestidade para que possamos evoluir, refletindo Sua luz em nossas ações e nos tornando instrumentos do Seu amor.
Olhemos para dentro de nosso coração e façamos uma análise: será que usamos da honestidade de uma forma íntegra e verdadeira? Na ocasião em que não dispomos de olhares sobre nossa conduta, será que estamos sendo honestos? Quando de repente raspamos o carro alheio estacionado, cujo dono não está naquele momento, qual nossa atitude? Fugimos ou deixamos um bilhete para posterior contato? Ou aquele objeto que achamos, vamos realmente procurar o verdadeiro dono para devolução, ou colocamos no bolso para uso próprio? Mentir no currículo para conseguir um emprego? Furtar materiais de escritório para uso pessoal?
Também agimos com falta de honestidade em situações sutis no dia a dia, como por exemplo exagerar histórias para parecer mais interessante, dizer que está “chegando” quando ainda não saiu de casa, fazer um elogio falso apenas por conveniência, deixar de corrigir um erro quando isso lhe favorece e fingir que não viu alguém para evitar uma conversa. Se estamos cometendo algum desses erros, é preciso procurar não repeti-los, buscar sempre a verdade e a honestidade.
Ser honesto é agir em conformidade com as Leis Divinas, sabendo que a verdade prevalecerá e que se terá que arcar com suas atitudes.
Allan Kardec, o Codificador da Doutrina Espírita, nos ensina que colheremos aquilo que plantamos, conforme a Lei de Causa e Efeito. No Livro O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo 5, Kardec nos orienta: Interroguem friamente suas consciências todos os que são feridos no coração pelas vicissitudes e decepções da vida; remontem passo a passo a origem dos males que os torturam e verifiquem se, as mais das vezes, não poderão dizer: Se eu houvesse feito, ou deixado de fazer tal coisa, não estaria em semelhante condição. A quem, então, há de o homem responsabilizar por todas essas aflições, senão a si mesmo? O homem, pois, em grande número de casos, é o causador de seus próprios infortúnios; mas em vez de reconhece-lo, acha mais simples, menos humilhante para a sua vaidade acusar a sorte, a Providência, a má fortuna, a má estrela, ao passo que a má estrela é apenas a sua incúria (KARDEC, 2023, p. 71).
Evelyn Freire de Carvalho, no livro A Morada dos Espíritos e suas Leis, nos orienta também: Quando se fala em causa, refere-se a origem de alguma coisa, um ato inicial que provavelmente vai resultar numa consequência, chamada de efeito. A causa, então, tem relação sempre com a origem de algo, e o efeito relaciona-se ao resultado deste ato. É muito importante lembrarmos que Deus, soberanamente justo e bom, sempre agirá com justiça plena em relação aos Seus filhos, não havendo o acaso e nem injustiças na Sua lei.
No universo nada está desconectado, havendo sempre uma sequência de ações a desencadearem outras, intimamente relacionadas. Segundo a lei de causa e efeito há, para todo ato, uma consequência natural e diretamente ligada ao ato originariamente praticado, de modo que, dependendo das nossas atitudes, positivas ou negativas, colheremos no amanhã o bem ou o mal, conforme o plantio realizado. Estando o indivíduo em conformidade com o Evangelho Redivivo, praticando o bem e vivenciando o amor exemplificado por Jesus, sua colheita será de coisas boas e, agindo em desconformidade com os princípios divinos, ver-se-á naturalmente envolvido em dor e sofrimento, como resultado de seus atos negativos (FREIRE, 2020, p. 178).
Ser honesto não é apenas um dever moral, mas também uma escolha que define o nosso progresso espiritual. Tudo que fazemos certamente um dia teremos que responder. Procuremos ser honestos e ensinar nossos filhos o caminho da retidão e do bem, mostrando o motivo pelo qual se deve ser honesto, seus benefícios e o quanto essa conduta é salutar, mostrando o quanto ser desonesto traz malefícios. Pelo brilho de seu exemplo, a criança aprende a trilhar o caminho do bem, guiada por valores de justiça e bondade. Educar uma criança desde pequena, investir na educação moral é formar pessoas honestas e justas.
No Livro O Céu e o Inferno, Allan Kardec nos relata sobre um Espírito que foi evocado em Bordeaux em 1862, por sua neta. Esse Espírito, chamado Joseph Bré, realiza um relato sobre a honestidade:
2. Como não o empesgaste bem? Sempre vivestes como um homem honesto.
-R. Sim, do ponto de vista dos homens; mas há um abismo entre o homem honesto diante dos homens e o homem honesto diante de Deus. Queres instruir-te, querida criança; vou tratar de fazer-te sentir a diferença.
Entre vós, é considerado como homem honesto quando ele respeita as leis de seu país, respeito elástico para muitos; quando não faz mal ao seu próximo tomando-lhe, ostensivamente, o seu bem; mas frequentemente, se lhe toma a honra e a sua felicidade sem escrúpulo, do momento em que o código ou a opinião pública não podem alcançar o culpado hipócrita. Quando se pôde fazer gravar sobre a sua pedra tumular as lenga-lengas de virtudes que são louvadas, crendo-se haver pago sua dívida a Humanidade. Que erro! Não basta, para ser honesto diante de Deus, não ter infringido as leis dos homens; é necessário, antes de tudo, não ter transgredido as leis divinas.
O homem honesto diante de Deus é aquele que, cheio de devotamento e de amor, consagra a vida ao bem, ao progresso de seus semelhantes; aquele que, animado de um zelo haurido no objetivo, é ativo na vida; ativo para cumprir a tarefa material que lhe foi imposta, porque deve ensinar aos seus irmãos o amor ao trabalho; ativo nas boas obras, porque não deve esquecer que é apenas um servidor ao qual o senhor pedirá contas, um dia, do emprego de seu tempo; ativo no objetivo, porque deve pregar, pelo exemplo, o amor ao Senhor e ao próximo. O homem honesto diante de Deus deve evitar com cuidado essas palavras mordazes, veneno escondido sob flores, que destroem as reputações e, frequentemente, matam o homem moral cobrindo-o de ridículo. O homem honesto diante de Deus deve ter sempre o coração fechado a menor levedura do orgulho, da inveja, da ambição. Deve ser paciente e doce para com aqueles que o atacam; deve perdoar, do fundo do seu coração, sem esforços e, sobretudo, sem ostentação, a quem quer que o haja ofendido; deve amar o seu criador em todas as suas criaturas; enfim, deve por em prática este resumo tão conciso e tão grande dos deveres do homem; amar a Deus acima de todas as coisas e ao seu próximo como a si mesmo (KARDEC, 2021, 182).
Como exercitar a honestidade? Sendo sincero, mas sempre com respeito e empatia; evitando exageros ou distorções para parecer melhor ou pior numa situação; prometendo o que puder cumprir; sendo respeitoso e ético no trabalho e; respeitando as leis. Além disso, é preciso praticar a honestidade em pensamentos, conversas e ações, abandonando a mentira, o roubo, o engano e a hipocrisia. Não engane ou trapaceie! Seja íntegro em provas e situações do dia a dia. Mesmo que ninguém estiver vendo, faça o que é correto. Seja exemplo para as crianças próximas.
A honestidade é um hábito que se fortalece com a prática. É uma virtude que agrada a Deus, nosso Pai, e é um dos valores mais importantes para a convivência em sociedade, construindo confiança e refletindo nosso caráter.
Quem é sincero conquista o respeito e a credibilidade dos outros. A integridade traz paz interior e inspira os outros a seguirem o mesmo caminho.
Que possamos escolher a verdade sempre, como Jesus nos ensina e pede.
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Referências:
1- BÍBLIA. Sagrada: Antigo e Novo Testamento. Tradução: João Ferreira de Almeida. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2007.
2- BLOG JORNAL DE JUNDIAÍ. Honestidade. Disponível em: https://sampi.net.br/jundiai/noticias/2674481/opinioes/2022/12/honestidade. Acesso em: 12/02/2025.
3- FREIRE, Evelyn. A Morada dos Espírito e suas Leis. Campos dos Goytacazes/RJ: Editora Letra Espírita. 2020.
4- KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, tradução de Guillon Ribeiro. Campos dos Goytacazes/RJ: Editora Letra Espírita. 2023.
5- KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno, tradução de Guillon Ribeiro. Araras/SP: Editora IDE. 2021.