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Cuidar do corpo e da alma


Por: Leda Maria Flaborea


Enquanto a criatura permanece no corpo material, é natural que se preocupe com o problema da própria manutenção. Na questão 718, de O Livro dos Espíritos, Kardec pergunta aos Espíritos Superiores: “A Lei de Conservação obriga a prover as necessidades do corpo”? E os Benfeitores Espirituais respondem que sim, porque, sem a força e a saúde, o trabalho seria impossível. Vivendo, pois, uma vida material, é necessário cuidar dela, seja no âmbito do próprio corpo, seja na vida de relação que estabelece com os demais seres.


O problema não está nessa necessidade natural, mas na maneira como entendemos isso, entendimento esse que nos coloca sob a força das Leis divinas, que harmonizam tudo no Universo. Nisso reside, então, o conceito de que cada escolha que fazemos está sujeita às consequências que a presidem. Isso vale, também, para as questões do Espírito que necessita de manutenção e cuidados. Do ponto de vista do Espírito, o corpo é uma prisão da qual ele necessita para viver experiências planetárias, em cumprimento ao programa evolutivo que lhe norteia, relativamente, a existência. Em última análise, esse corpo é sua casa. Não sem razão, André Luiz lembra que: “Cada dia é novo ensejo para adquirirmos enfermidades ou curar nossos males. O melhor remédio, antes de qualquer outro, é a vontade sadia, porque a vontade débil enfraquece a imaginação e a imaginação doentia debilita o corpo. Doença do corpo pode criar doença da alma e doença da alma pode acarretar doença do corpo”. Portanto, nossa obrigação é cuidar dele com respeito, o que vale dizer que todo aquele que acreditar que, maltratando o corpo, purifica a alma, comete ação contra o patrimônio divino.


Por que o corpo é patrimônio divino? Muitos dizem: “Esse corpo é meu e faço o que quiser com ele”. Será que ele pertence, verdadeiramente, a nós? Somos Espíritos, criados imortais, usando um corpo como instrumento para experiências evolutivas. Então, quem diz que o corpo é seu pressupõe que ele pertença ao Espírito. Se assim é, por que esse aparelho físico não o acompanha quando se liberta e vai para o plano espiritual? Sabemos que isso não acontece. Temos consciência de que a matéria fica e o Espírito parte sozinho. Então, reafirmamos a questão: A quem pertence o corpo? Podemos responder, sem medo de errar, que ele é patrimônio divino, emprestado ao Espírito para que, através dele, possa se manifestar no mundo em que foi chamado a viver. E, por ser emprestado, é que precisamos tomar muito cuidado com ele.


O que significa, diante dessa afirmação, cuidar do corpo? Recorramos a Kardec. Em O Livro dos Espíritos, questão 719, o Codificador pergunta aos Espíritos Superiores: “É repreensível ao homem procurar o bem-estar? A resposta é clara: “O bem-estar é um desejo natural. Deus não proíbe senão o abuso, porque o abuso é contrário à conservação. Ele não incrimina a procura do bem-estar, se esse bem-estar não é adquirido à custa de ninguém, e se não deve enfraquecer, nem as vossas forças morais, nem vossas forças físicas”.


Podemos pensar, então, que cuidar do corpo significa nutri-lo, proporcionando-lhe bem-estar, através da higiene, exercícios físicos e alimentação adequada – tudo isso sem exageros –, evitando os vícios – não importa quais sejam eles – que, lentamente, vão destruindo o que está sob nossa responsabilidade. Nosso corpo é um corpo vivo com necessidades peculiares, e ignorar essas necessidades é ignorar as Leis da Natureza.


Ideias errôneas, que ainda hoje permeiam nossa existência – muitos povos as cultuam –, são levadas a extremos, constituindo-se em obstáculos ao caminhar evolutivo. De um lado, temos os que acreditam que, maltratando o corpo, purifica-se o Espírito; de outro, os que não acreditando que exista o Espírito – ou mesmo, aceitando a ideia da sua existência –, não o valorizam, cuidando, apenas, de cultuar o corpo. Extremos que se chocam e que acabam praticando violências contra um e contra o outro. Entre esses dois extremos, há uma multidão de criaturas preguiçosas e indolentes em relação ao corpo. Encontramos, também, aqueles que não se interessam em fortificar o Espírito com valores morais. É necessário compreender que ambos estão ligados entre si e que os excessos de um trazem consequências para o outro.


Assim, quando nossa atenção está voltada apenas para o fortalecimento dos músculos, esquecemo-nos de dar força ao Espírito, preparando-o para enfrentar os problemas do dia a dia. Se, de outro lado, nossa atenção se concentra, somente, nas coisas do Espírito, não nos damos conta de que precisamos viver as coisas do mundo, caso contrário não progrediremos e não faremos progredir tudo o que está ao nosso redor. É tolice ignorar que assim evitaremos as tentações, pois é na luta contra elas que nos tornamos mais fortes. A verdade é que, em ambas as situações, deixamos de cumprir as Leis do Trabalho e do Progresso, dadas a nós, por Deus, para nossa evolução.


O que fazer, então? O equilíbrio é sempre o melhor caminho. Tanto o corpo quanto o Espírito possuem necessidades particulares, que precisam e devem ser atendidas, pois elas se complementam. Buscar esse equilíbrio com calma, respeito e dignidade é nossa tarefa planetária, objetivando crescimento e evolução. É, sem dúvida alguma, tarefa individual, porque cada um de nós será responsável pelas escolhas que fizer. Nada fazer é, também, uma escolha, lembremo-nos disso.


É bom não esquecer que vigilância espiritual não exclui previdência material e vice-versa. É necessário ter prudência no que armazenamos na matéria ou no campo do Espírito (sentimentos menos edificantes são o nosso grande obstáculo), porque ainda não conseguimos viver, plenamente, os ensinamentos de Jesus. Torna-se fácil compreender, sob esse foco, o porquê do alerta evangélico do “vigiai e orai”.


Nosso tempo é agora, e hoje é o dia em que nos compete fazer o que deve ser feito em nosso próprio benefício. O amanhã? Bem... Esse é desígnio divino.





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