Por: Rafaela Paes
Talvez um dos temas que mais fascinem os adeptos do Espiritismo seja a vida após a morte. Viver com a crença de que aqui não é nem o início e nem o fim de nossos espíritos, acaba por gerar curiosidade e até medo em algumas pessoas.
Estudando a Doutrina sabemos que nem todos os mistérios nos foram revelados pela Codificação Básica de Allan Kardec, afinal de contas, nosso estado evolutivo ainda não nos permite o acesso a todos os “segredos” que o universo guarda, mas O Livro dos Espíritos dedica algumas de suas questões aos esclarecimentos acerca da vida após a morte, e o artigo de hoje dedica-se ao estudo dessas questões pontuais.
A nossa alma, nos intervalos de uma a outra encarnação, torna-se o que se denomina Espírito errante, que segue aspirando um novo destino. Esse intervalo é variável, podendo durar horas ou milhares de séculos. “Não há, propriamente falando, limite extremo assinalado para o estado errante, que pode prolongar-se por muito tempo, mas que, entretanto, não é jamais perpétuo. O Espírito encontra sempre, cedo ou tarde, oportunidade de recomeçar uma existência que sirva à purificação das anteriores” (QUESTÃO 224).
A mesma questão segue nos ensinando que a duração desta erraticidade é uma consequência advinda do livre-arbítrio. “Os Espíritos sabem perfeitamente o que fazem, porém, para algum é também uma punição imposta por Deus. Outros pedem para que ela seja prolongada, a fim de continuarem estudos que não podem ser feitos com proveito, senão no estado de Espírito”.
Quanto a esses estudos, pergunta-se na questão 227 de que forma os Espíritos errantes se instruem, ao que responde-se que “estudam o seu passado e procuram os meios para se elevarem. Veem, observam o que se passa nos lugares que percorrem; ouvem as palavras dos homens mais esclarecidos e os avisos dos Espíritos mais elevados, e isso lhes dá ideia que não tinham”.
Quanto às paixões humanas, no momento do desenlace do corpo físico, os Espíritos elevados abandonam as más paixões e só guardam para si as que sejam boas. Entretanto, Espíritos inferiores conservam-nas (QUESTÃO 228).
Adiante, aprendemos que na erraticidade, o Espírito pode progredir, melhorando-se, guiando-se pela sua vontade e desejos, mas será sempre durante as suas existências corporais que ele colocará em prática o seu aprendizado (QUESTÃO 230).
Quanto a tão sonhada felicidade, os Espíritos errantes a viverão, bem como a infelicidade, é claro, de acordo com seus próprios méritos. “Sofrem as paixões cuja essência conservaram, ou são felizes segundo eles sejam mais ou menos desmaterializados. No estado errante, o Espírito entrevê o que lhe falta para ser mais feliz e procura os meios para alcançar a felicidade; mas não lhe é sempre permitido reencarnar-se como seria do seu agrado, e isto, então, lhe é punição” (QUESTÃO 231).
Em relação à mobilidade dos Espíritos errantes, traz a questão 232 que “quando o Espírito deixa o corpo, ele não está, por isso, completamente liberto da matéria e pertence ainda ao mundo onde viveu ou a um mundo do mesmo grau, a menos que, durante a sua vida, ele se tenha elevado; e deve ser esse seu objetivo pois, caso contrário, não se aperfeiçoará jamais. Ele pode, entretanto, ir a certos mundos superiores, mas, nesse caso, aí é como um estranho; não faz, por assim dizer, mais do que os entrever, e é isso que lhe dá o desejo de se melhorar, para ser digno da felicidade que neles se desfruta e poder habitá-los mais tarde”. Quanto aos Espíritos já purificados, eles podem e vão a mundos inferiores para auxiliá-los em seu progresso, já que, se assim não fosse, eles estariam sem guias para dirigi-los (QUESTÃO 233).
Existem também mundos transitórios, “particularmente destinados aos seres errantes e nos quais podem habitar temporariamente; espécies de acampamentos, de campos para se repousar de uma muito longa erraticidade, estado sempre um pouco penoso. São posições intermediárias entre os outros mundos, graduados de acordo com a natureza dos Espíritos que podem alcança-los, e nele gozam de um bem-estar maior ou menor” (QUESTÃO 234).
Adiante tem-se que os Espíritos conservam suas percepções da vida física, e mais outras que eles não possuíam, pois o corpo físico servia como um véu. (QUESTÃO 237).
Indo mais a frente ainda, sobre a questão das escolhas das provas, é sempre o Espírito quem escolherá o seu gênero de provas e isso ocorre também pelo livre-arbítrio. Entretanto, devemos entender que “nada ocorre sem a permissão de Deus, pois é Ele quem estabelece todas as leis que regem o Universo. Perguntai, então, por que fez tal lei ao invés de outra. Dando ao Espírito a liberdade de escolha, deixa-lhe toda a responsabilidade de seus atos e suas consequências, de maneira que nada entrava o seu futuro; o caminho do bem, como o do mal, lhe está aberto. Se sucumbe, resta-lhe a consolação de que nem tudo se acabou para ele; Deus, na sua bondade, lhe dá a oportunidade de recomeçar o que foi mal feito. É necessário, aliás, distinguir o que é obra da vontade de Deus do que é da vontade do homem. Se um perigo vos ameaça, não foste vós que criastes, mas Deus; contudo, pela própria vontade, a ele vos expondes porque vedes um meio de adiantar-vos e Deus o permitiu” (QUESTÃO 258).
O tema é deveras extenso, e trabalhamos apenas as principais questões, cujo estudo todos podem continuar, no capítulo VI de O Livro dos Espíritos.
Para finalizar, fica a mensagem de Emmanuel, no livro Fonte Vida, intitulada Entre o Berço e o Túmulo: “Não atentando nós nas coisas que se veem, mas nas que se não veem, porque as que se veem são temporais e as que se não veem são eternas.” – Paulo. (2ª Epístola aos Coríntios, 4:18.)
A flor que vemos passa breve, mas o perfume que nos escapa enriquece a economia do mundo.
O monumento que nos deslumbra sofrerá insultos do tempo, contudo, o ideal invisível que o inspirou brilha, eterno, na alma do artista.
A Acrópole de Atenas, admirada por milhões de olhos, vai desaparecendo, pouco a pouco, entretanto, a cultura grega que a produziu é imortal na glória terrestre.
A cruz que o povo impôs ao Cristo era um instrumento de tortura visto por todos, mas o espírito do Senhor, que ninguém vê, é um sol crescendo cada vez mais na passagem dos séculos.
Não te apegues demasiado à carne transitória.
Amanhã, a infância e a mocidade do corpo serão madureza e velhice da forma.
A terra que hoje reténs será no futuro inevitavelmente dividida. Adornos de que te orgulhas presentemente serão pó e cinza. O dinheiro que agora te serve passará depois a mãos diferentes das tuas.
Usa aquilo que vês para entesourar o que ainda não podes ver.
Entre o berço e o túmulo, o homem detém o usufruto da terra, com o fim de aperfeiçoar-se.
Não te agarres, pois, à enganosa casca dos seres e das coisas.
Aprendendo e lutando, trabalhando e servindo com humildade e paciência na construção do bem, acumularás na tua alma as riquezas da vida eterna.
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